Em pleno clima de celebração dos 461 anos de São Paulo, uma instigante mostra acontece no Centro Cultural Correios (Av. São João, s/n – Centro) reunindo farto material do Escritório Ramos de Azevedo, notadamente fotografias, plantas e documentos pertencentes ao Arquivo Histórico do Município e de coleções particulares. Formada por 100 peças, a exposição traça um perfil da urbanização da cidade tendo como fio condutor as obras projetadas e executadas pelo famoso escritório. Cobrindo um período que se estende desde o final do século XIX aos meados do século XX, o visitante se defronta com uma série de extraordinários desenhos dos diversos projetos para construções com finalidades comercias, governamentais ou culturais além de bancos, hotéis, igrejas, fábricas e inúmeros palacetes para a elite paulistana.

O Escritório de Ramos de Azevedo foi praticamente o primeiro a atuar de forma moderna e eficiente na área de Arquitetura, Engenharia e Construção, tendo sempre atraído grandes profissionais para a sua equipe como Max Hehl, Ricardo Severo, Domiziano Rossi, responsável pelos projetos, Felisberto Ranzini exímio desenhista ao lado de Domingos Pellicciotta, Paulo Gianini, Americo Giglio e Romeo Scartezani. Outros profissionais de grande talento também passaram pela empresa, mas acabaram fazendo carreira própria como Flávio de Carvalho, engenheiro de estruturas, Alexandre Albuquerque, Victor Dubugras e George Krug.

Grande empresário e visionário, Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), formado como engenheiro arquiteto na Escola de Engenharia da Universidade e na Academia de Belas Artes, ambas na cidade de Gante, na Bélgica entre 1875 – 1878, soube atrair para seu escritório poderosos clientes. Trabalhou incansavelmente na área da construção, foi em 1890 chefe da carteira imobiliária do Banco União, tendo adquirido a Fazenda Itupararanga com a finalidade de garantir o fornecimento de mármore e cal virgem para as obras de seu escritório na sequencia se uniu à CIA Paraná Industrial para extração de pinhos e madeiras nobres. Em 1896 participa da Companhia Melhoramentos de São Paulo, fundou em 1908 a Companhia Predial Iniciadora, tendo realizado diversos empreendimentos imobiliários. Criou também a Cerâmica Vila Prudente e a Cia. Suburbana de Retalhamento de Terras. Foi diretor da Escola Politécnica (1917 a 1928), onde ministrava Elementos de Arquitetura e Arquitetura Civil e Higiene e Habitação, tendo dirigido o Liceu de Artes e Ofícios.

Com a morte de Ramos de Azevedo, em 1928, a razão social do escritório foi alterada para “F.P. Ramos de Azevedo, Severo & Villares” tendo sido modificada em 1938 para “Severo Villares & Cia”. Umas das proezas da engenharia foi constatada na construção do Edifício Britânia, nos anos 40, na rua Libero Badaró, que exigiu o congelamento do solo do edifício vizinho por dois anos. O projeto do Edifício Azevedo Villares com 24 andares, situado à rua do Tesouro, foi outro marco, pelo alto empenho de detalhes técnicos e apurado acabamento, inspirado nos arranha-céus de Manhattan.

O Estádio do Pacaembu foi uma obra marcante de grande requinte, nos detalhes do mobiliário, do salão de festas, da sala de recepção aos banheiros, passando pela sala de imprensa ao magnífico trampolim, um projeto primoroso enraizado no art déco, que pode ser observado nos diversos desenhos expostos, uma raridade.

As obras projetadas pelos Escritório são inúmeras algumas antológicas como a Tesouraria da Fazenda (1896-1891), Secretaria da Agricultura (1892-1896), Quartel da Luz (1888-1892), Laboratório da Escola Politécnica (1895-1896), Escola Politécnica (1912-1920), Liceu de Artes e Ofícios (1897-1900), Cemitério da Consolação (1902), Teatro Municipal (1903-1911), Palácio das Indústrias (1911-1924), Palácio da Justiça (1920-1933), Correios e Telégrafos (1920-1922), Mercado Municipal (1922-1933), Instituto Oscar Freire (1922), a Faculdade de Medicina (1928 -1931) entre tantos ícones da cidade de São Paulo.

A atuação do Escritório de Ramos de Azevedo foi essencial para o desenvolvimento da cidade de São Paulo, definindo rumos e inovando deixando importantes obras que podem ser admiradas em roteiros propostos pela própria mostra conforme mapa da região central.

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